sábado, 26 de dezembro de 2009

É Natal, é Natal!

Quando chega o Natal, (como é o caso), muita gente vem à praça pública fazer apelos para que olhemos para esta quadra com mais coração e menos materialismo. Dizem eles que o Natal, supostamente, não deveria ser comercial...

Como?!

O Natal foi sempre comercial!

Regressemos ao primeiro Natal de sempre! O menino Jesus ainda mal tinha nascido e três marmanjos apareceram logo à porta cheios de presentes para oferecer... (Eles sabiam que aquele bebé seria alguém importante no futuro, não poderiam perder a oportunidade de mais tarde cobrar favores).

Podemos imaginar o diálogo que tiveram no caminho para lá...

Baltazar - Então pessoal! Tudo bem? Sabem se é longe?

Gaspar - Se é longe ou não, não sei, mas este camelo não é muito confortável... Já me dói o rabo...

Belchior - Devias ter trazido uma sela almofadada, como a minha...

Gaspar - Oh Belchior, eu sou homem...

Belchior - Ai! Que mau humor, olha meu menino, que não te doa o olho...

Baltazar - Rapaziada, vamos lá a acalmar, que a viagem ainda é longa...

Gaspar - Eu não falo mais com a "miss deserto"...

Baltazar - Tem lá calma... Olha, o que é que trouxeste para o menino?

Gaspar - Mirra... E tu?

Baltazar - Incenso...

(Neste momento Belchior começa a mostrar algum nervosismo)

Gaspar - Olha! Ainda bem que a loja não tinha... Também ía comprar incenso...

Baltazar - E tu Belchior?

Belchior - (Disfarçando) Eu o quê?

Baltazar - O que é que trouxeste para o menino?

Belchior - (Baixinho) Ouro...

Baltazar e Gaspar - Hã?!

Belchior - Ouro!

Gaspar - Logo vi!

Baltazar - Tinhamos combinado não exceder os 5 euros!

Belchior - Desculpem...

Gaspar - Agora vais fazer um figurão e nós vamos fazer figura de urso!

Belchior - Desculpem...

Gaspar - Devias ir à loja dos chineses comprar qualquer coisa...

Belchior - Não tenho dinheiro... O que tinha gastei no ouro...

Baltazar - Pois pois... És muito espertinho...

E lá foram os 3 em direcção a Belém... Pararam nos pastéis, (para comer uma bucha), e depois continuaram a seguir a estrela que os guiou até uma manjedoura onde se encontravam Maria, José, uma vaca, um burro e o menino Jesus... Ah! E um cheiro nauseabundo que provinha da mistura dos excrementos da vaca, do burro, do menino e de José, que num momento de aflição não se fez rogado e aliviou-se atrás de um monte de feno... Os Reis Magos, como reis que eram, não conseguiram permanecer no local por muito tempo...

Baltazar - Viva!

Belchior - Trazemos presentes para o menino...

Gaspar - Desculpem o facto de não estarem embrulhados... Sabemos que é Natal... E os anos dele... Já agora, como é que se chama?

Maria - Maria...

Gaspar - Não... o menino...

Maria - Ah! Que parvoíce... Desculpe... Jesus.

Belchior - Que nome lindo! Posso pegar nele?

Baltazar - (Sussurrando ao ouvido de Belchior) Deixa-te de mariquices... Vamos embora que eu não aguento este cheiro.

Gaspar - Bem, era só para deixarmos os presentes... A festa está animada...

José - Já vão?

Baltazar - Sabe, o dia foi comprido...

José - Fiquem aqui conosco.

Belchior - Ai não! Eu sou alérgico aos fenos...

Gaspar - (Dirigindo-se já para a porta de saída) Digam ao menino que daqui a uns anos nós voltamos para falar com ele...

Baltazar - Adeus!

E lá se foram afastando da manjedoura, (em passo acelerado), os 3 Reis Magos... Conversando acerca das condições precárias em que tinha nascido o menino... E de como eles nunca conseguiriam viver como ele...

Hugo Barreiros